Na definição mais generalizada de antropologia, o que também é a mais aceita, a Antropologia é entendida como o estudo do homem (antrophos, grego), lembrando que a ideia não é o estudo do gênero masculino, mas SIM da humanidade em um contexto geral. Melhor ficaria então definir Antropologia como estudo das características do ser humano.

Mas com esta definição poderia surgir uma dúvida no que diz respeito à qual seria a especificidade do papel científico da antropologia; se levarmos em consideração que a psicologia, a medicina, e todo o conjunto das ciências humanas têm como objeto de estudo ser humano, a partir de algum viés particular e próprio, qual é o objeto da antropologia no que diz respeito ao estudo do homem?

Podemos também afirmar que o objeto de pesquisa da antropologia é o estudo do outro, das culturas diversas, várias, chamadas em certo momento de culturas primitivas. Mas o interesse ao estudar essas culturas não está no fato simples de em entender como elas percebem o mundo, qual é a visão do mundo que essas culturas possuem. A antropologia sempre está em função de um contexto reflexivo, além do compreensivo; se buscarmos entender como as diversas culturas percebem o mundo é porque se acredita na possibilidade de aprendizado que elas possam nos proporcionar. É importante que se perceba que é a relação, entre o indivíduo e a cultura que está em jogo na antropologia.

A percepção que o sujeito tem de si mesmo sofre uma mutação constante quando ele consegue se perceber em relação à pluralidade; quando ao observar que os outros podem fazer as mesmas coisas que ele faz, mas de diversas formas diferentes, nos indagamos sobre as nossas próprias maneiras de realizar as coisas. Por exemplo, pensemos em que existe de “natural” em se alimentar com garfo e faca? Ou em dormir em camas e colchões? Ou ainda em escovar os dentes após todas as refeições? Isso é mais natural que comer apenas com as mãos ou do que dormir em redes ou de não ter o hábito escovar os dentes? O que é “natural” para nós, mas também é para os membros de uma outra cultura? os Bororo do parque do Xingu, por exemplo? Vejamos um outro exemplo: há um costume em diversas culturas indígenas chamado de couvade. Ele consiste em que quando uma mulher fica grávida, o pai da criança tem que cumprir os mesmos tabus rituais que a mulher, ficar em casa deitado, repousando, por exemplo. É uma forma de expressar para a sociedade que ele é o pai. Se pensarmos na repercussão desse costume na nossa sociedade como seria visto? De que forma seria compreendido? Essa com certeza não seria uma forma “natural” para nossa vivência cultural e social.

“à aceitação da antropologia pela sociedade complexa convive com a emergência da representação de sua diversidade […] que começa a se opor/aliar a uma imagem de uma sociedade formada por grupos ou identidades coletivas (étnicos, religiosos, culturais, etc.) interagindo de formas diversas.” (Lovisolo, 1984, p. 59)

Sendo assim, podemos começar a pensar numa possível definição do que seria a antropologia como o estudo do outro em relação a nós. Essa relação nos permite pensar em uma das dimensões fundamentais da antropologia que é a dimensão comparativa. Sempre estamos comparando as culturas, não para dizer que uma é melhor que a outra, mas para poder perceber a diferença. É na relação de contraste, de comparação, que percebemos a alteridade. Assim poderíamos dizer que a antropologia busca produzir um conhecimento sobre nós, mas através do desvio pelo outro.

É importante notar que o objeto da Antropologia passou a contemplar o homem como um todo, e não apenas o que o pesquisador europeu considerava exótico. Na verdade, podemos dizer que a Antropologia, como disciplina, passou a ser o estudo das nuances do homem em sociedade. Dessa forma, o pesquisador na atualidade se questiona sobre seus próprios procedimentos metodológicos, pois reconhece seu papel extremamente subjetivo.

A Antropologia passou a estudar como são compostas as sociedades em suas diversidades históricas, geográficas e culturais (LAPLANTINE, 2003). Nesse sentido, o objeto da ciência antropológica incorporou a noção de que a humanidade não é singular, mas plural.

O projeto antropológico consiste, portanto, no reconhecimento, conhecimento, juntamente com a compreensão de uma humanidade plural. Isso supõe ao mesmo tempo a ruptura com a figura da monotonia do duplo, do igual, do idêntico, e com a exclusão num irredutível “alhures”. As sociedades mais diferentes da nossa, que consideramos espontaneamente como indiferenciadas, são na realidade tão diferentes entre si quanto o são da nossa. E, mais ainda, elas são para cada uma delas muito raramente homogêneas (como seria de se esperar) mas, pelo contrário, extremamente diversificadas, participando ao mesmo tempo de uma comum humanidade. (LAPLANTINE, 2003, p. 13)

Dessa forma, trata-se de uma ciência que assume como paradigma o estudo realizado no contato real com as sociedades a serem estudadas e abre-se para compreender que a relação “eu–outro” pode levar à tolerância e ao respeito entre as diversas dinâmicas culturais, sem que os homens partam para o confronto com o diferente, mas enriqueçam-se a partir das interações entre os grupos sociais.

A disciplina Antropologia Teológica do Bacharel em Teologia EAD pelo MEC do SETEFI aborda a origem do homem, a história do pensamento criacionista, queda e salvação, e outras questões ligadas ao assunto.

Sadrac Pereira

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